quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Ex-Presidentes rebatem acusações e criticam atual diretoria.









Em entrevista publicada na edição desta terça-feira do GLOBO, o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, volta a atacar as gestões anteriores pela situação financeira do clube que, segundo ele, "impõe austeridade", impede contratações e se origina do que chamou de "anos e anos de irresponsabilidade". No fim deste texto, reproduzimos a visão do presidente para que os dois lados da questão possam se manifestar.

A repetição do discurso que culpa o passado pelo mau desempenho do futebol e pela impossibilidade de contratar reforços irritou ex-presidentes do Flamengo e escancarou a crise política. Eles questionam a tese de que não há recursos, citam os valiosos contratos que o clube possui atualmente e enxergam incapacidade na atual diretoria para gerir o futebol. Além de entenderem que os atuais dirigentes repetidamente desrespeitam publicamente os antecessores, lembram que todos os ex-presidentes do Flamengo tiveram que lidar com dívidas herdadas.

O principal motivo de irritação, aliás, é o fato de que as declarações foram publicadas horas após uma reunião do Conselho de Administração. Nela, em tom conciliador, Bandeira dialogou com ex-presidentes e obteve uma aprovação de revisão do orçamento. Segundo o ex-presidente Hélio Ferraz, o futebol passa a ter R$ 144 milhões para gastar em 2014, numa média de R$ 12 milhões por mês. O valor é alto, ainda que a diretoria argumente que, todo mês, precisa pagar R$ 3,5 milhões relativos a contratos de jogadores e técnicos que não estão mais no clube.

Os ex-dirigentes entendem que, com os contratos e as receitas de que o clube dispõe hoje, é perfeitamente possível fazer a gestão das dívidas sem colocar o futebol à beira do rebaixamento

- Quem não tem competência não se estabelece, já dizia a minha avó. Se eu administrasse com R$ 350 milhões por ano, seria campeão do mundo. Na minha época (foi presidente em parte de 2002 e em 2003), o orçamento era de R$ 48 milhões, mas R$ 20 milhões já haviam sido gastos. Administrei com R$ 28 milhões e o time ficou em oitavo no Brasileiro. Nunca levantei a voz para me queixar dos outros. É do jogo. Em toda instituição, o passivo é constituído anteriormente. Mas a maior torcida do Brasil, que permite ao clube ter os contratos que tem, também foi constituída anteriormente. Você quer só o bônus? Tem o ônus também - diz Ferraz, que completa. - Há problemas, há passivos, mas o passivo do André Santos é de quem? O do Carlos Eduardo é de quem? Estão cobrando dos sócios R$ 500 mil de dívida de IPTU. Se diminuísse um quarto da comissão do agente do Carlos Eduardo, pagavam esta dívida. É do jogo as gestões seguintes pagarem o passivo. Não estão fazendo um acordo de 30 meses com o André Santos? Então, o próximo presidente vai pagar.

Ele diz, ainda, que nem toda a herança recebida pela atual diretoria foi maldita

- A Adidas chegou ao Flamengo a despeito desta diretoria. Tive que empregar toda a minha paciência para que eles (os atuais dirigentes) não entornassem o cargo. Estávamos no processo eleitoral e a Adidas já estava próxima do Flamengo desde a gestão da Patrícia Amorim. Também foi no último ano da gestão dela que o contrato da TV pulou de R$ 60 milhões para R$ 120 milhões e, em 2016, vai para R$ 160 milhões. A Caixa Econômica Federal foi apresentada ao Eduardo Bandeira de Mello e o Wallim no meu escritório quatro dias após a eleição. Já estavam se aproximando do clube.

Antecessora de Eduardo Bandeira de Mello, a ex-presidente Patrícia Amorim rompeu longo silêncio.

- Há uma prepotência de achar que eles têm solução para tudo e que ninguém prestou serviço ao Flamengo. Então, vamos ser justos. É certo acusar ex-dirigentes de apropriação indébita quando, na verdade, eles pagaram dívidas com dinheiro que nós deixamos? Receberam o clube com R$ 80 milhões em caixa. Dinheiro da TV, da Adidas e de bilheteria. Hoje, se o Flamengo tem acesso a receitas de bilheteria é porque nós pagamos o acordo com a BWA. Rompemos com a Olympikus, antes de assinar com a Adidas, com o cuidado de não ter multa, não deixar uma conta a pagar. Eles mandaram técnicos embora, mandaram Vágner Love, Elano, Carlos Eduardo, André Santos, todos com multas altas. As dívidas do Flamengo são centenárias. Eu negociei com Petkovic, com Romário. E não contratei nenhum deles. Mas você assume que quer ser presidente do Flamengo, então tem que assumir o passivo também.  

Amorim também cita a reunião da noite de segunda-feira. Além da revisão do orçamento, foi aprovada a tomada de um novo empréstimo de R$ 10 milhões.

- No Conselho de Administração, os ex-presidentes estavam presentes. Então, nestas horas eles são parceiros? Mas depois recebem críticas, acusações.

Já Márcio Braga avalia que a atual gestão errou no modelo adotado no futebol.

- Eles são nota 10 na gestão administrativa, nota 10 na gestão financeira, mas nota zero na política e nota zero no futebol. Há uma incompetência instalada lá por serem principiantes. O modelo é inviável. Falam em profissionalizar, mas são eles que compram, vendem e mandam embora jogador e técnico. Quem manda, que é o Bap (Luiz Eduardo Baptista, vice de marketing) e o Wallim (Vasconcelos, ex-vice de futebol) não fica na frente. Colocam na linha de frente o presidente para dizer que acumula a vice-presidência de futebol. E não manda nada - afirma Braga.

- Todos nós pagamos e administramos dívidas passadas. E ganhamos. O presidente continua a falar em clube cidadão. Daqui a pouco este clube cidadão vai estar na Segunda Divisão. Claro que não há esta falta de dinheiro toda. É desculpa para a incompetência no futebol.

Ele também aponta o que chama de falta de habilidade política para lidar com dirigentes que, segundo ele, ajudaram a construir a história do clube.

- O complexo deles em relação a gestões anteriores é outra prova de incompetência. Se já sabiam disso antes, o que estão fazendo lá? É característica de quem não tem experiência em gestão da coisa pública. O Flamengo não é empresa privada, não pertence a eles. Então, você precisa ter habilidade política. Dizer que não importa que caia, que o importante é pagar dívida, é discurso de quem não entende nada de Flamengo. Sempre pagamos o que foi possível.

O OUTRO LADO

Na entrevista ao repórter Gian Amato, do GLOBO, Eduardo Bandeira de Mello disse que a situação financeira herdada pela diretoria impede grandes contratações para o time. E diz que a política austera não será modificada mesmo diante do fantasma do rebaixamento.

- É claro que gostaríamos de ter um time melhor, mas a situação nos impõe esta medida de austeridade. E não vamos nos afastar dela, não vamos gastar. Estamos pagando o preço de anos e anos de irresponsabilidade financeira no Flamengo - disse Bandeira.

Mais adiante, ele diz que "seria até brincadeira imaginar que esta situação financeira não limita o desempenho do time". Ele lembra que, para contratar, o clube dependeria de investidores. A diretoria argumenta que, desde 2008, o valor de compromissos não pagos a cada exercício e repassados para gestões futuras foi aumentando. Segundo os cálculos dos dirigentes atuais, o número era de R$ 21 milhões durante o ano de 2008, chegou a R$ 79 milhões em 2011 e a R$ 182 milhões em 2012. Bandeira diz que a dívida do clube, estimada em R$ 750 milhões, pode ser maior.

- Pareceres não eram confiáveis, balanços foram aprovados com ressalvas, são instrumentos de ficção. A dívida pode ser maior. 

Fonte: Blog do Mansur


SRN

Fonte: http://www.noticiasfla.com.br/2014/08/Ex-Presidentes-rebatem-acusacoes-criticam-atual-diretoria.html

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