Irmãos rubro-negros,
vimos esta semana mais uma demonstração do inequívoco “amor” que vetustas lideranças do Flamengo nutrem pelo clube.
Inflamados por sentimentos pouco nobres, como vaidade, orgulho, egoísmo e poder, certos grupos políticos descontentes com os austeros rumos adotados pela diretoria atual, e valendo-se sordidamente da má campanha do time no Campeonato Brasileiro deste ano como pretexto, usaram de sua nociva influência para manipular boa parte dos membros do Conselho Deliberativo do Clube de Regatas do Flamengo, a fim de que estes não comparecessem à reunião que votaria o destino do casarão de São Conrado.
Não se tratou, no caso, de um questionamento aos termos de aquisição de compra do terreno por uma incorporadora. Nada disso. O mérito do acordo, se bom ou ruim para o Flamengo, em nenhum momento esteve em pauta.
O que motivou a ação desses grupos políticos, que há muitos anos perpetuam-se no poder, achando-se, em virtude do seu “conhecimento de causa” sobre as coisas rubro-negras, como verdadeiros donos do clube, foi apenas e tão-somente, por pura picuinha política, o desejo de atingir e enfraquecer a diretoria atual, sem nenhuma consideração acerca do enorme prejuízo que isso poderia causar aos interesses do Flamengo.
O bem do Flamengo, que deveria ser o norte de toda e qualquer conduta de um verdadeiro rubro-negro, independentemente de quem esteja momentaneamente exercendo o poder político, foi solenemente ignorado por essas pessoas.
Se havia dúvidas quanto aos benefícios para o Flamengo da proposta a ser votada na terça-feira, caberia às lideranças políticas exigir de seus correligionários o maior quórum possível, de modo a que se pudesse analisar adequadamente a negociação.
Mas não. Os caciques, num ato de enorme irresponsabilidade para com o Mengo, simplesmente viraram as costas ao clube. Em vez de um debate enriquecedor, houve na terça-feira um vazio melancólico. Tudo em manifesto prejuízo aos legítimos interesses do Clube de Regatas do Flamengo.
Quanta mesquinharia.
E o mais triste é que todos sabiam, muito antes do horário da votação, que o quórum não seria alcançado.
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Não é preciso conhecimentos avançados de ciências exatas. Basta um pouquinho de memória e bom senso. Pensemos na gestão do Flamengo a partir de 1993.
Para os mais novos isso talvez seja difícil, pois não presenciaram o período imediatamente anterior; mas para quem tem idade acima de 35 anos, fica muito simples avaliar o que fizeram com o Flamengo nesses últimos 20 anos.
O nome, a imagem e a credibilidade do clube foram jogados no lixo. Apenas isso.
Evidentemente, os responsáveis por isso não querem que o tema seja debatido às janelas abertas. Não, de modo algum. Esse assunto, na visão das antigas lideranças, deve ficar preferencialmente escondido em algum lugar escuro e pouco frequentado da casa, pois, conforme eles mesmos fazem questão de alardear, “quem não geriu o Flamengo com dívidas?”. Muito fácil fugir de suas responsabilidades dessa maneira.
A lembrança do que fizeram com o Flamengo tem de permear constante e permanentemente tudo o que envolve nosso amado clube. Exatamente para que isso não se repita.
Na política do Flamengo ainda são comuns práticas arcaicas e caquéticas, já vislumbradas por Sérgio Buarque de Holanda, em seu clássico “Raízes do Brasil”, quando se refere ao “homem cordial”, ou seja, aquele que, no exercício de cargo público ou privado, não consegue, em detrimento da meritocracia, desvincular-se dos laços familiares e afetivos.
No Flamengo, as alianças políticas não são formadas tendo em mira o bem do clube, mas visam a barganha, o troca-troca de favores e as relações de parentesco e amizade. Não importa se um sujeito é reconhecidamente incompetente para exercer certo cargo. Se ele é parente, amigo, ou se, a depender do acordo de ocasião, outorgou seu apoio a certa corrente política, terá, uma vez vencida a eleição, o seu cargo garantido.
Na verdade, irmãos flamengos, o que tem incomodado a oposição não é o péssimo rendimento do time de futebol em 2014. Com raras exceções, essa é a tônica do futebol do clube desde 1993.
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O que realmente gera profundo descontentamento em setores antiquados e irresponsáveis do clube é o rompimento com métodos amadorísticos na condução de todos os departamentos do Flamengo.
Hoje, a gestão do Flamengo tem se profissionalizado. Há muita opinião equivocada sendo emitida sem o devido conhecimento dos fatos, e a oposição, no vácuo da crise instalada no futebol, tem se aproveitado largamente disso.
Os cargos diretivos não são mais ocupados pelos “coleguinhas” de ocasião, mas por profissionais de renome no mercado. O alto escalão da estrutura administrativa, como as vice-presidências, fica incumbido de traçar as metas e de fiscalizar a atuação dos subordinados, os diretores remunerados.
Para isso, não é necessário que, por exemplo, um vice-presidente, cujo cargo não recebe qualquer rendimento, tenha de passar o dia inteiro dentro do clube. E é natural que assim seja.
Eu lhes pergunto: como uma pessoa de patrimônio médio, que precisa trabalhar duramente para prover a si e à sua família, pode exercer um cargo não remunerado no clube, dedicando-se integralmente à função, sem auferir um centavo sequer?
Como uma pessoa nessas condições pagará suas contas e despesas?
É exatamente tal estado de coisas que dá ensejo a negociatas escusas e de duvidosa idoneidade, quase sempre em prejuízo aos interesses do Flamengo.
Por isso a reação tão enérgica da oposição. Quem são Eduardo Bandeira de Mello e cia para acabar com a boquinha de tantos amigados da política tradicional do clube? Quem são esses novatos para dizer como o Flamengo tem de ser gerido?
Como a oposição gosta de repetir à exaustão, infelizmente com ecos na imprensa e em parte da torcida, a gestão atual “não sabe nada de Flamengo e muito menos de futebol.” Aí você pergunta qual nome o cidadão indicaria para o departamento de futebol e vem a resposta: “Kléber Leite ou Marcos Braz.”
Quer dizer, com o devido respeito às opiniões divergentes, mas manifestando humildemente a minha, isso só pode ser brincadeira. De péssimo gosto, aliás.
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Todos nós gostaríamos que as receitas do futebol fossem inteiramente destinadas à formação de um time espetacular. No momento, todavia, isso não é possível.
Claro que os parcos recursos não justificam os muitos equívocos que têm acompanhado o futebol flamengo neste 2014. Foram, realmente, muitos erros cometidos e nenhuma falta de dinheiro pode servir de desculpa.
Contudo, ao menos na minha opinião, não vislumbro nas gestões anteriores nenhuma sabedoria superior que lhes possa conferir o epíteto de “conhecedores do Flamengo”, de modo a torná-los, assim, os salvadores do clube e os únicos com o know-how necessário para conduzi-lo.
Muito pelo contrário, a única seara em que as gestões precedentes se destacaram foi na aquisição de dívidas, muitas dívidas, e na dilapidação do patrimônio moral do clube.
Enquanto uns contraem débitos sabe-se lá como, mas sempre valendo-se do bolso exclusivo do clube, A atual gestão se propõe a pagá-los, com enorme sacrifício de todo o clube. E tem de ser assim. Não há fórmula mágica. Não há um bilionário americano, chinês, árabe ou russo disposto a investir milhões e milhões no clube. Pelo menos não até o fechamento desta coluna.
Mas as contas têm de ser pagas e os credores estão às portas.
Eu desejo para o Flamengo o que desejo para minha família: que honremos nossos compromissos.
É fundamental que o Flamengo se liberte definitivamente do atraso. O mundo mudou, o futebol é um esporte que, embora mexa com a paixão de milhões de pessoas, tornou-se um negócio altamente lucrativo. Só sobreviverá quem entender a realidade atual e a ela se adequar.
O Flamengo, com seu gigantismo e a paixão inigualável da Nação Rubro-Negra, não pode continuar refém de uma mentalidade tacanha e de uma política ultrapassada.
Queremos o Flamengo como ele é: o maior e o melhor.
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Mas que fique claro para a diretoria atual que qualquer política de recuperação do clube jamais logrará êxito se o futebol não caminhar a contento.
O futebol do Flamengo não é brincadeira.
Por que a diretoria não investiu no Elias? Por que a diretoria contratou o Ney Franco, um técnico reconhecidamente de pulso fraco, justamente para comandar um elenco com graves problemas de relacionamento?
Por que a diretoria demorou tanto para afastar certos jogadores do elenco, sendo que alguns já alcançaram inclusive a marca de sete jogos? E vale lembrar que ainda tem gente para engrossar essa fila.
Por que a diretoria demorou tanto a compreender que o futebol do clube ansiava por alguém experiente para comandá-lo dentro e fora das quatro linhas?
Por que, enfim, a diretoria demorou tanto a reconhecer o equívoco de sua política de ingressos, afastando aquele que é o maior patrimônio do Clube de Regatas do Flamengo, a Nação Rubro-Negra?
São questionamentos corretos e que merecem resposta adequada e atenciosa.
Mas também cabe reconhecer que alguns desses problemas já foram solucionados. E sem que tenha sido necessário sangrar os cofres da instituição com contratações milionárias, feitas apenas para calar críticos e enriquecer alguns.
E não nos esqueçamos: as obras do Ninho do Urubu foram retomadas em definitivo. Em feito inédito, pela primeira vez em sua história o Clube de Regatas do Flamengo terá um Centro de Treinamento de Primeiro Mundo.
Qual diretoria fez isso ou algo parecido pelo clube nos últimos anos? Faço questão de responder: nenhuma.
Pagamento de dívida e investimento em infraestrutura esportiva demandam trabalho sério e sacrifício. Deve ser por isso, portanto, que ambos sejam atributos tão pouco valorizados pela oposição, e mesmo pela imprensa esportiva em geral, sobretudo a carioca, que, exceto alguns valiosos profissionais, está sempre muito preocupada com intrigas, baixarias e disse-que-disse.
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No âmbito estrito das quatro linhas, o Mengão enfrentará no domingo, fora de casa, um adversário particularmente difícil.
São notórias as dificuldades que o Flamengo depara quando joga lá.
Mais que bons times, acho sinceramente que falta ao clube mudar sua mentalidade.
O Flamengo como instituição ainda é muito ligado às rivalidades locais. Nada contra. Os arco-íris do Rio de Janeiro sempre serão adversários tradicionais do Flamengo. Foi assim, localmente, que tudo começou e nossa grandeza vem dessa história, construída sempre com muita luta, suor, raça e amor.
Mas vejo que o momento do futebol carioca e o do brasileiro, em particular, exigem nova abordagem, nova perspectiva quanto às prioridades do clube.
A tendência, e isso ocorre desde os anos de 1970, é que as rivalidades se formem cada vez mais em nível nacional. Era assim com o Flamengo multicampeão de 1980. Criamos rivalidade com Atlético-MG, Palmeiras, Grêmio e Internacional, dentre outros. O Flamengo se impunha independentemente do adversário e do local do jogo. Enfrentamos algumas das maiores equipes já montadas por tradicionais clubes brasileiros e estrangeiros, e obtivemos brilhante êxito em muitas jornadas.
Esse fenômeno, no caso do Flamengo, foi se enfraquecendo paulatinamente a partir de 1993. Diante dos fracassos em competições nacionais e internacionais, voltamos nossos olhos para o Campeonato Carioca e para os rivais locais. E vivenciamos campanhas maravilhosas: dois tricampeonatos e vários títulos cariocas conquistados honradamente no período.
Mas está perceptível a olho nu que o panorama é outro. Consolida-se a idéia de que as competições nacionais (Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil) e internacionais (Libertadores da América e Mundial de clubes) são os grandes objetivos a serem alcançados.
E o Flamengo, se quiser realmente entrar na festa e fazer bom papel, tem de realizar o dever de casa, como fazia em 1980 e início de 1990.
É necessário parar com essa frescura de aceitar empate fora de casa como bom resultado. Pode até ser, a depender do contexto. Mas para um clube que se pretende gigante e referência nacional, o Flamengo tem de se impor aos adversários dentro e fora de casa, sem temor algum.
No domingo, creio possível, desejável e necessária a vitória para consolidar nossa recuperação no certame. O Flamengo tem de chegar e jogar futebol, com muita vontade, sem melindres e nem receios quanto a retrospectos recentes.
Isso não significa que o time deva partir para cima, alucinadamente, em busca do gol.
Significa, isso sim, que, uma vez escolhida a melhor tática pelo técnico, no caso o Vanderlei Luxemburgo, seja jogando em cima do adversário, seja atuando mais fechado, que o time esteja confiante e ciente de que a camisa que o veste e a torcida que o apóia já o credenciam à vitória, embora o futebol recentemente apresentado desminta isso.
Não custa lembrar, irmãos, que ano passado vencemos lá por 2 x 0.
Queremos o Flamengo forte dentro e fora de casa, dentro e fora de campo. Para isso, é fundamental alargar os horizontes.
Fonte: Buteco do Flamengo
SRN
Fonte: http://www.noticiasfla.com.br/2014/08/Novos-Horizontes.html