O Maracanã está cheio, e a disputa de pênaltis é justamente no local mais barulhento do estádio: a baliza próxima da fanática torcida do Flamengo. Eduardo da Silva ajeita a bola, toma distância e desloca o adversário. Goleiro de um lado, bola do outro. Sem nervosismo. Sem entregar-se à pressão do momento. Mal lembrava o atacante que, pouco antes, no tempo regulamentar, comemorava euforicamente seu gol - o terceiro do Rubro-Negro, tento que forçaria a disputa de pênaltis contra o Coritiba nas oitavas de final da Copa do Brasil. Ali, no palco da final da Copa do Mundo da FIFA, Eduardo da Silva estava em casa. E em casa como poucas vezes se sente mesmo em seu próprio país.
Nascido no Rio de Janeiro em 1983, o atual camisa 23 do Flamengo tem uma história como nenhum outro jogador brasileiro. Aos 16, deixou a Cidade Maravilhosa para atuar ainda nas categorias de base do Dínamo de Zagreb. Mais tarde, tornou-se cidadão croata e passou a defender a seleção de seu novo país. Eduardo ainda jogou no Arsenal, da Inglaterra, e no Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, antes de, aos 31 anos, assinar contrato com um clube brasileiro pela primeira vez na vida. No retorno, o atacante teve sucesso dentro de campo. Nos primeiros sete jogos, saindo do banco em cinco oportunidades, balançou as redes cinco vezes. Só que fora de campo Eduardo ainda não se mostra à vontade.
“Eu nasci aqui, mas ainda estou acostumado lá, né? Passei 15 anos na Europa. Ainda estou com a mentalidade de lá, sabe? Ainda estou assim… Como se fala?”, indaga, buscando palavras, em bate-papo com o FIFA.com. Eduardo, aliás, já chegou a passar três anos sem voltar ao Brasil, nem de férias.
“Antigamente, não havia internet, essa tecnologia toda. Eu comprava ficha no orelhão e gastava uma fortuna para falar um minuto com a família.”
Foram longos períodos sem dar entrevistas em português e, embora tenha completo entendimento do idioma, o atleta hoje brinca sobre seu vocabulário.
“Eu sempre repito umas 200 palavras mesmo…”
Eduardo diz sentir-se em casa no Rio de Janeiro, mas só quando está, de fato, em sua residência, onde mora com sua esposa, Andrea, e os filhos, Lorena e Matheus. Dirigir e realizar tarefas do dia-a-dia têm sido experiências novas e curiosas.
“Quando vou sair, já sinto as diferenças (em relação à Europa). Eu me sinto como um estrangeiro, sabe? O trânsito é diferente, o supermercado, as lojas… Não estou acostumado”, diz, lembrando que deixou o Brasil quando ainda vivia em uma região de baixa renda.
“Eu saí de uma comunidade, entende? Fui para lá (Croácia) e me acostumei com a vida de lá. Agora voltei, mas é diferente da Europa. O trânsito também… Estou um pouco perdido.”
O impacto é maior porque o clube em questão é o Flamengo. Eduardo tornou-se, da noite para o dia, uma referência do clube mais popular do país. Antes de sua chegada, o Flamengo ocupava a zona de rebaixamento. Hoje, ocupa a décima posição, na metade superior da tabela de classificação.
“Você liga a televisão, o rádio, e estão sempre falando de futebol. Ainda mais no Flamengo, né?”, ressalta.
“Eu vinha para o Brasil de férias quando jogava no Dínamo - e mesmo quando comecei a jogar pela seleção da Croácia - sempre comprava pão na mesma padaria, e as pessoas não sabiam quem eu era. Eu andava tranquilão. Hoje em dia que está assim, né? O pessoal agora está me reconhecendo.”
E dentro de campo?
Em suas primeiras competições profissionais no país, Eduardo da Silva vem fazendo gols com frequência incomum para alguém que ainda busca adaptar-se ao clima e a um estilo de futebol bem diferente. Especialmente porque seu contato com o futebol brasileiro foi mínimo durante a maior parte dos últimos 15 anos.
“Eu sempre queria, mas não via nada. Só os gols. Naquela época, não era valorizado o Campeonato Brasileiro. Nos últimos três, quatro anos, deu para ver jogos ao vivo na Ucrânia e na Croácia”, explica.
E, quando chegou, o atacante encontrou algo bem diferente do que imaginava. Antes de assinar com o Fla, conversou com colegas brasileiros, que incentivaram sua volta.
“Sem problema”, diziam. Eduardo pensou que seria fácil. Apesar dos gols e de cair no gosto da torcida, admite que errou na avaliação.
“Pensei que seria fácil mesmo, mas quando cheguei, vi que é totalmente diferente do que eu imaginava. O Campeonato Brasileiro é bem difícil, bem competitivo. As aparências enganam. Aqui, são muitos os jogadores técnicos. Todo mundo gosta da bola, entende?”
Mas, se é difícil, o que explica o sucesso de Eduardo da Silva? Mérito? Sorte? “Sei lá”, responde com um sorriso.
“Em todos clubes que passei, deixei uma imagem positiva. É claro que estou vivendo um momento importante da minha vida. E ainda é no Flamengo.”
Fonte: FIFA
SRN
Fonte: http://www.noticiasfla.com.br/2014/09/Eduardo-revela-maior-reconhecimento-atuar-mengao.html