sexta-feira, 13 de junho de 2014

Times pequenos do Rio de Janeiro sofrem para sobreviver.










Longe do futebol cercado pela mídia e por altos investimentos, está outro: aquele em que jogadores lutam para se sustentar com contratos temporários, dirigentes para manter o centro de treinamento em pé e torcedores para simplesmente ter notícias de seu time. No Rio, esse é o caso de diversos clubes de menor investimento, fora do grupo dos “grandes”: Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Para times como Olaria, São Cristóvão e Ceres do Bangu, a visibilidade intensificada pela Copa do Mundo no país não diz respeito a sua realidade.

Um dos times mais antigos do Rio de Janeiro, fundado em 1898, o São Cristóvão vive atualmente com uma renda mensal de R$100 mil. O dinheiro cobre, a duras penas, o futebol profissional, o sub-20, sub-17 e sub-15, além dos salários da comissão técnica, do treinador, roupeiro, massagista e fisioterapeuta. Os contratos com os jogadores costumam durar 4 meses, duração do Campeonato Carioca – atualmente, o “Tóvão”, como é carinhosamente chamado, está na série C da competição.

O centro de treinamento do “São Cri-Cri” conta com uma sala de musculação modesta e um campo de futebol. Uma das reclamações do dirigente Renato Campos é falta de médicos para a equipe. “Teve um dia em que eu tive que levar um jogador para o hospital de carro porque só tinha um médico para 44 garotos, isso não pode acontecer”, lembra Campos. A principal fonte de receita do clube é o aluguel de duas churrasqueiras, uma quadra, um campo e um salão de festas. “Fora o meu próprio dinheiro, que coloco quando falta alguma coisa”, adiciona o presidente do clube, Emmanoel França.

É na raça que o Ceres de Bangu, fundado em 1933, também sobrevive. O dirigente Winston Soares não revelou o orçamento anual do time, mas afirma que o clube se mantém com doações de torcedores. Atualmente na série B do campeonato, o centro de treinamento é precário: dois campos estão tomados por capim e outro, de grama sintética, está cheia de buracos.

O jeito acaba sendo treinar no campo que deveria ser usado apenas em jogos oficiais.  “Nós estamos trabalhando para melhorar e sentimos falta de uma estrutura principalmente em momentos decisivos do Carioca, onde o preparo do jogador faz diferença”, diz. “A gente fica muito triste quando vê movimentos como o Bom Senso Futebol Clube, onde uma minoria de jogadores reclama que trabalha muito, mesmo com altos salários. A realidade de 90% dos clubes brasileiros é o jogador trabalhar quatro meses e ficar desempregado”, revela.

Times pequenos desejam visibilidade

No clube Olaria, a estrutura é um pouco melhor. Há piscinas, campos, saunas e academia. A renda vem de patrocínios, da receita de sócios e do aluguel do espaço.  Equilibrar as contas, no entanto, não é fácil, como conta o presidente Augusto Pinto Monteiro.  “É muito difícil se manter no futebol, são muitas contas para pagar e acho que a mídia deveria dar mais espaço para os times pequenos. Assim as oportunidades poderiam surgir. O Olaria é um time com muitas histórias, revelou o Romário e não merecia estar passando por essas dificuldades”, declara.

A reivindicação por espaço na mídia parece ser unânime no meio. “Eu queria que tivesse uma lei que determinasse que a mídia transmitisse de 10 a 15 minutos de conteúdo sobre times pequenos, para que nossa história não seja esquecida”, sugere Emmanoel França, presidente do São Cristóvão. O torcedor do Olaria, Victor Vianna, também lamenta a situação. “Ninguém cobre o Olaria, dificilmente tem algo na grande mídia. Há uns 4 anos, um grupo de torcedores criou uma rádio oficial do clube, para transmitir todos os jogos e dar noticias do dia-a-dia do clube. Em muitos jogos, ficamos à mercê, pois não temos notícias dos jogos além da internet e de algumas rádios”, conta.

Torcedor do Ceres, Leonardo Vieira, afirma que a grande mídia “ignora” os times pequenos, mas lembra que algumas mídias especializadas em clubes de menos investimento os trata “com o maior respeito”. Para ele, a estrutura do Campeonato Carioca também é desfavorável aos pequenos times. “Ele dificulta o acesso e a classificação dos clubes de divisões inferiores às fases finais no campeonato principal. Isso gera pouca atratividade e competitividade no torneio”, afirma.

Vocação por revelar talentos

Times como São Cristóvão, Olaria e Ceres, além de ter vínculo histórico com seu lugar de origem, são os grandes responsáveis pela formação dos atletas brasileiros, segundo o jornalista esportivo Stefano Salles. Autor do blog “Deu Zebra”, no site do Globo, especializado na cobertura de times de menos investimento, Salles sugere uma fonte de renda para estes clubes.

“Ser jogador de futebol é o grande sonho dos meninos brasileiros e os grandes clubes não têm condições de receber e formar todos esses atletas. Então, eles começam nos clubes que os oferecem oportunidades, e a negociação futura desses atletas teria tudo para ser a principal fonte de renda desses clubes”, afirma, lembrando que as negociações nem sempre são justas para os times de origem.

Um dos grandes exemplos do papel dos pequenos clubes na revelação de talentos é Ronaldo “Fenômeno”, revelado pelo São Cristóvão. “Ele era um cara que não faltava treino e não chegava atrasado, apesar das suas dificuldades. Por isso, chegou, aonde chegou. Fico feliz por ter participado disso dentro do São Cristóvão”, afirma o dirigente Renato Campos, também um torcedor apaixonado.

Dentre os clubes de menor investimento no país, Stefano Salles classifica três tipos: o clube orgânico, o clube de prefeitura e o clube-empresa. Os primeiros, no qual se encaixam São Cristóvão, Olaria e Ceres, são aqueles surgidos espontaneamente e com grande representatividade comunitária. Nos outros dois casos, poder municipal e empresas investem em times que alcançam resultados expressivos a curto e médio prazo, tornando seus patrocinadores mais conhecidos.

Fonte: Brasil 247


SRN

Fonte: http://www.noticiasfla.com.br/2014/06/Times-pequenos-Rio-de-Janeiro-sofrem-para-sobreviver.html

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